ACTINOMICETOS DO SOLO E SUA IMPORTÂNCIA
By: Maurílio
de Faria Vieira Júnior
UFRRJ
Importância dos Microrganismos do Solo
As características e qualidades de um solo são
determinadas, em grande parte, pelos organismos nele presentes. Essa interferência
pode ser clara em processos como a decomposição ou regulação das populações
microbianas, ou mais sutis, como no caso da textura e estrutura, ou capacidade
de retenção de água (CORREIA e DE ANDRADE, 2008).
Os micro-organismos participam da formação do solo
decompondo restos animais e vegetais num processo que resultará na formação de
substâncias húmicas que, em conjunto com outros materiais da decomposição,
promoverão a agregação das partículas primárias e formarão os agregados do solo
(LEPSH, 2010). São importantes também na ciclagem dos nutrientes contidos na
matéria orgânica do solo, mineralizando-os à
formas disponíveis às plantas como consequência de seu metabolismo.
Em áreas geologicamente estabilizadas, cobertas por longo
tempo com vegetação, o solo apresenta uma condição de equilíbrio dinâmico das entradas
e perdas anuais de matéria orgânica no processo descrito como reciclagem ou
“turnover”. A biomassa microbiana do solo é a parte viva e mais ativa da
matéria orgânica nele presente, essa biomassa é constituída por fungos,
bactérias e actinomicetos que atuam em processos que vão desde a formação do
solo (mineralização das rochas), até a decomposição de resíduos orgânicos,
ciclagem de nutrientes e biorremediação de áreas contaminadas por poluentes
(DOS REIS JR. e MENDES, 2007).
Outra função importante exercida pelos
micro-organismos no solo é a associação simbiótica com plantas e com outros
micro-organismos, esta reduz os custos com a adubação nitrogenada e fosfatada, além
das implicações benéficas em termos ecológicos dela resultantes (DE POLLI et.
al., 1988).
Segundo
Franco Corrêa (2009) fungos micorrízicos colonizando as células, desenvolvem
micélio externo que permite a colonização de microhabitats, tanto rizosférico
quanto não rizosférico e o desenvolvimento de atividades como ciclagem de
nutrientes, nitrogênio e fósforo principalmente.
Destaca-se ainda, a atuação dos micro-organismos no
controle biológico de pragas e doenças. George et. al. (2012) ao estudarem
actnomicetos de solos do Pantanal, revelaram que estes possuem amplo e estreito
espectro de ação contra estirpes patogênicas e que havia correlação positiva
entre o teor de carbono orgânico deste solo e a quantidade de actinomicetos.
Grande número
de espécies de micro-organismos são utilizadas na estabilização de poluentes
resultantes das atividades agrícolas ou industriais e também como fonte de
material genético para a pesquisa em vários ramos da ciência. O complexo
solo-micro-organismos tem grande importância devido aos serviços que presta à
agricultura, gestão de resíduos e da água, indústria e ao ambiente como um todo
(YOUNG, 2004).
Actinomicetos
do solo:
Dentre os micro-organismos do solo, encontram-se os
Actinomicetos, bactérias Gram-positivas com alta diversidade morfológica e de
metábólitos, bem como de habitats, sendo o solo, o principal entre estes. Podem
ser autotróficos ou heterotróficos, em função dos diversos tipos de metabolismo
por eles apresentado.
Os actinomicetos
são bactérias aeróbias Gram-positivas, filamentosas e parcialmente ácido resistentes,
amplamente distribuídas no solo e em outros ambientes naturais do mundo e
pertencem à ordem Actinomycetales (UZCÁTEGUI-NEGRÓN,
2009).
Os gêneros de actinomicetos mais
freqüentes e mais importantes na microbiologia do solo são Micromonospora, Nocardia, Nocardiopsis, Streptomyces,
Streptosporangium e Thermoactinomyces.
Entre estes, Streptomyces é o mais
amplamente distribuído, e o seu nicho primário é o solo (STANFORD et. al.,
2005).
Segundo
de Oliveira (2003) os Actinomicetos possuem grande diversidade morfológica
verificada em suas estratégias reprodutivas que conduzem à formação de uma
variedade de estruturas de esporos.
A
maioria dos gêneros pertencentes a este grupo é formada por microrganismos
aeróbios, entretanto alguns poderão ser anaeróbios facultativos ou
obrigatórios. Os actinomicetos são químio-heterotróficos e poderão utilizar uma
ampla variedade de fontes de energia, inclusive polímeros complexos (FRANCO,
2009).
De acordo com Arifuzzman
et. al. (2010) a diversidade de gêneros e o tamanho das populações individuais
de actinomicetos dos solos sofrem forte influência de fatores como
temperatura, pH, quantidade de matéria orgânica, tipo de
solo, forma de cultivo e aeração, todos ligados à geografia, bem como,
proporcionalmente, as populações de actinomicetos são menores que as de fungos e outras
bactérias, sendo os streptomicetos ácido-tolerantes, predominantes entre os
actinomicetos.
Segundo Rodrigues
(2009) grande diversidade microbiana e em particular a população de
actinomicetos que ocorre em habitats naturais, pode muitas vezes ser alterada
pela atividade do homem através do uso de compostos químicos.
Segundo Cornell e Kely
(1981) os actnomicetos são encontrados em grande quantidade no horizonte
superficial (A) e essa quantidade
decresce conforme se aprofunda no perfil do solo, o que estaria correlacionado
com o consequente decréscimo do teor de matéria orgânica conforme a
profundidade.
Para alguns
actnomicetos como os dos gêneros Nocardia e Streptomyces, a rizosfera se mostra
um nicho favorável, mas em geral a influência da rizosfera sobre as populações
de actinomicetos é menor do que a que ocorre sobre as populações de bactérias e
de fungos, tendo em conta que os actinomicetos são micro-organismos de
crescimento lento e com baixa capacidade competitiva (PEREIRA, 2000).
Os actinomicetos são importante fonte para a
produção de antibióticos,os quais podem exercer o controle sobre outras
populações de micro-organismos, inclusive aqueles patógenos às culturas de
interesse, podendo ainda, atuar como antagonistas em competição com estes,
sendo qualitativamente importantes na rizosfera, influenciando o crescimento de plantas e
protegendo as raízes da colonização por patógenos.
Hervey et. al. (1970)
ao avaliarem solos de florestas e de áreas agrícolas em Honduras, observaram
que nestes últimos os actinomicetos constituíam mais de cinquenta por cento das
populações de micro-organismos que se desenvolviam tanto em meio ácido como em
meio básico e que algumas das cepas de actinomicetos possuíam características
antagônicas a outros micro-organismos.
Segundo
Coimbra e Campos (2010) isolados de actinomicetos testados reduziram
significativamente o número de nematóides causadores de galhas por grama de
raiz do tomateiro quando comparados com a testemunha inoculada apenas com o
nematoide.
A atividade da
quitinase produzida por alguns actinomicetos pode ser um dos mecanismos de
biocontrole utilizados contra fungos patogênicos. Segundo Soares, (2006) houve
interação significativa entre isolados de actinomicetos e a inibição da germinação
de esporos e crescimento de micélios de Curvularia eragrostides e
Colletotrichum glocosporioides.
De acordo com Moura e Romeiro (2000) isolados de
actinomicetos testados para controle da murcha bacteriana e estímulo ao
crescimento em tomateiro, proporcionaram aumento aumento significativo nos
parâmetros número de folhas, altura e pesos seco e fresco verificaram também,
que houve correlação entre o biocontrole e o estímulo ao crescimento.
A associação
mutualística entre formigas do gênero Acromyrmex e fungos do gênero Leucoagaricus
pode ser ameaçada por fungos necrotróficos do gênero Escovopsis, dentre
várias estratégias de proteção ao ninho e ao fungo em especial, bactérias
simbiontes do gupo actinomiceto são mantidas pelas formigas para, através da produção
de compostos anti-microbianos específicos, controlarem os micro-organismos
ameaçadores do sistema (BARKE et. al., 2010).
Segundo Marin (1999) bactérias do
gênero Frankia, podem se associar simbióticamente a espécies vegetais que
ocorrem em regiões temperadas formando as actinorrizas, essa associação é capaz de fixar o nitrogênio
atmosférico.
Possuem grande importância ecológica, pois devido
à sua capacidade de utilização de diversas fontes de carbono, e devido a
atuação de enzimas extracelulares como a B-glucosidadase e a peroxidase, são
capazes de degradar moléculas como a de celulose, hemicelulose e principalmente
a de lignina, esta bastante complexa e de difícil desestabilização pela maioria
dos componentes da microbiota do solo. Atuam ainda sobre a quitina, um dos
componentes da parede celular de fungos e desempenham também importante papel na estabilização de poluentes
e compostos orgânicos.
Segundo Joly (1960) no complexo enzimático dos
actinomicetos figura a protease,
responsável pela degradação do substrato proteico,
através das formas mais simples que são os aminoácidos e depois amônia, a
habilidade proteolítica dos Actinomicetos é manifesta também contra bactérias
fitopatogênicas; em ambos os casos concorre para a realização do ciclo do nitrogênio na natureza.
Sistemas
celulolíticos completos são produzidos por vários microrganismos, como
bactérias e fungos. As bactérias celulolíticas incluem espécies aeróbias, como
pseudomonas e actinomicetos, anaeróbias facultativas, como Bacillus e Cellulomonas
e anaeróbias estritos, como Clostridium (FARINAS, 2011).
A capacidade dos
actinomicetos utilizarem várias fontes de carbono sejam monossacarídeos,
dissacarídeos ou polissacarídeos, demonstra
sua atividade celulolítica. Os actinomicetos termofílicos são
promissores devido à sua capacidade de produzir enzimas estáveis a temperaturas
elevadas e em uma ampla faixa de pH
(RODRIGUES, 2006).
Salamoni (2005)
ao estudar trinta isolados de actinomicetos pertencentes ao gênero Streptmyces, verificou
a atividade de celulases e também, que estas enzimas tiveram máxima eficiência
no substrato palha de milho, à temperatura de trinta graus Célsius e pH 9,0.
Candeias et. al.
(2009) ao estudarem 180 isolados de actinomicetos de resíduos da produção de
sisal, encontraram dentre estes, vários isolados com atividade enzimática xilanolítica, celulolítica e quitiníca
positivas.
Segundo Dutra (1997) os actinomicetos
desempenham papel importante na conversão de taninos à substâncias semelhantes
ao húmus; prestando contribuição relevante para a destoxificação de efluentes
do descascamento da madeira, destacando-se ainda, o potencial da espécie S.
diastaticus para atuação em sistemas abertos de tratamento de efluentes contendo taninos condensados e de
eficiente competição com possíveis micro-organismos invasores.
Vimos a grande quantidade de
interações e funções realizadas pela microfauna e microflora do solo e que foi
dada ênfase aos actinomicetos, objetivo desta revisão mas, o bastante para
percebermos que apesar do nosso tamanho e capacidade de modificação, talvez
possamos dizer com grande probabilidade de acerto que, apesar de não querermos
aceitar, dependemos deles muito mais do que imaginamos, principalmente a longo
prazo.
Espero que em tempo não muito distante
possamos nos conscientizar, principalmente aqueles que tomam decisões ou forman
opinião, de que não somos donos, mas apenas fazemos parte do sistema natureza.
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muito bom!
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